terça-feira, 25 de novembro de 2014

9ª Postagem: "Não contém glutén" Porque?

   O caso clínico dessa semana tem como objetivo falar sobre uma situação que existe rotineiramente na nossa alimentação, mas que é desconhecida por uma parcela enorme da população, sendo importante entendermos melhor os mecanismos e cuidados sobre o respectivo tema.
  O caso trata de uma mulher de 53 anos, com tireoide de Hashimoto de dificil controle, hipervitaminose D, hipocalcemia, anemia ferropenica recorrente, poliartrite e alterações frustes dos hábitos intestinais há 12 anos. Foi internada por diarreia crônica, com desidratação crônica e alterações hidroeletroliticas daí resultantes.
   Na análise desse caso clínico, devemos observar, em primeiro lugar, os motivos da internação da paciente. A diarreia crônica representa uma manifestação frequente de doença intestinal e de grande impacto na vida do paciente, fazendo com que tenhamos uma maior preocupação com o caso, al+em de voltar a atenção para os órgãos do aparelho gástrico.
   É apontado, também no caso estudado, que a apresentava-se desidratada, taquicárdica e hipotensa, com abdómen doloroso à palpação profunda do epigastro e hipogastro e aumento dos ruídos hidro-aéreos. Durante os testes: a análise das fezes evidenciou diarreia secretora, com malabsorção. O estudo imunológico revelou anticorpos IgA anti-gliadina, anti-reticulina, anti-endomísio e anti-transglutaminase tecidular negativos (excluído défice de IgA). A TAC abdominal mostrou ansas intestinais distendidas, preenchidas por abundante quantidade de líquido. A colonoscopia total e a endoscopia digestiva alta não mostraram alterações macroscópicas, mas o estudo histológico da

biopsia duodenal realizada na terceira porção do duodeno (recolhidas 5 amostras) demonstrou aspectos compatíveis com doença celíaca.
   O interessante, nesse caso, é que a paciente havia feito, anos atrás, o teste de doença celíaca, mas a hipótese foi afastada devido aos marcadores imunológicos negativos e à histologia duodenal normal. Isso, pois a doença celiaca causa lesões no epitélio intestinal que libera transglutaminase tecidual-TGA, desencadeando resposta imune pelas células T, liberando citocinas pró-inflamatórias. Entre os sintomas da doença em questão, podemos citar deficiência moderada de Ferro, dor abdominal, fadiga e osteoporose; sinais encontrados na paciente estudada. O estudo mostrou que a doença celíaca também pode vir a se manifestar tardiamente.
   A doença celíaca representa uma alteração genética de indivíduos que são sensíveis ao glúten, sendo uma doença autoimune. É por isso que nas embalagens dos alimentos deve haver a indicação de conter ou não conter glúten, algo que todos percebemos, mas nunca sabemos realmente o motivo ou a importância dessa constatação.
    Ao ingerir as proteínas gliadina ou prolamina (vindas do trigo) e outras semelhantes, esses conjuntos de aminoácidos modificam-se quando entram em contato com o organismo, provocando no sistema imunitário reações, que refletem em inflamações intestinais. A partir dessas inflamações, a parede do intestino delgado com vilosidades fica mais achatada, reduzindo a capacidade de absorção dos nutrientes essenciais para o corpo, causando agravamentos para a saúde.
   Existem exames de triagem que procuram descobrir a sensibilidade do indivíduo ao glúten. Entre eles, podemos citar:

- Anticorpo antitransglutaminase (anti-TTG) – São pesquisados anticorpos da classe IgA. Tem sensibilidade e especificidade de 90% a 95%. É realizado por método Elisa e universalmente aceito como teste de triagem para DC. Por haver uma concomitância de 2% a 10 % de DC e deficiência de IgA, é necessário fazer a dosagem de IgA sérica concomitante. No caso de IgA baixa, deve-se testar o anticorpo antitransglutaminase da classe IgG. 

- Anticorpo antiendomísio (EMA) – Também é feito para anticorpos de classe IgA. Tem sensibilidade e especificidade semelhante à do anti-TTG, porém, por ser realizado por técnica de imunofluorescência indireta, depende da experiência do observador. Por outro lado, a possibilidade de inspeção visual permite um controle de qualidade inerente a esse exame. EMA e anti-TTG têm desempenho diagnóstico comparável e geralmente apresentam concordância. Isso ocorre porque o antígeno reconhecido no teste EMA é a própria transglutaminase, enzima em que o endomísio é rico. No entanto, algumas amostras podem ser reagentes em apenas um desses dois testes devido a peculiaridades de exposição de epítopos em cada um desses ensaios.
- Anticorpo antigliadina – Por sua menor sensibilidade e especificidade, esse anticorpo não tem mais sido recomendado para a triagem de DC. 
- Teste genético – A grande maioria dos pacientes celíacos e 30% da população geral apresentam HLA-DQ2 e/ou DQ8. Assim, a presença de um desses dois alelos tem boa sensibilidade, mas baixa especificidade. Portanto, um teste negativo para DQ2/DQ8 praticamente afasta a possibilidade de DC, mas um resultado positivo não permite fechar diagnóstico, sendo necessários outros subsídios de natureza clínica, imunológica ou histológica.

   No caso da doença celiaca, o tratamento ocorre com uma dieta livre de glúten, algo que restringe bastante a alimentação do indivíduo, mas que ainda cria muitas possibilidades de dieta, até mesmo por empresas que acreditam nesse mercado e criam sempre novas opções livres de glúten.
   Para ter uma melhor noção de uma dieta livre de glúten, utilizada até mesmo por quem busca emagarecimento e remoção de gordura na área abdominal, acesse: http://www.dietaesaude.com.br/dietas/44-dieta-sem-gl%C3%BAten

Fonte:
http://www.galiciaclinica.info/PDF/27/610.pdf
http://blogbionut.blogspot.com.br/2012/06/doenca-celiaca-e-umdisturbio-auto-imune.html
http://bioquimica-clinica.blogspot.com.br/2010/08/doenca-celiaca.html

9 comentários:

  1. Estudos internacionais apontam que 1% da população mundial é celíaca. Na última década aumentou no Brasil a consciência sobre a doença celíaca. Afeta em torno de 2 milhões de pessoas no Brasil, mas a maioria dessas pessoas ainda estão sem diagnóstico.
    Para a pessoa apresentar intolerância ao glúten ela precisa ter dois fatores: predisposição genética, isto é, nascer com chance de desenvolver esta intolerância e comer alimentos que contenham glúten. Esta intolerância é para a vida toda e acontece, principalmente
    porque o glúten danifica o intestino delgado e com isso prejudica a absorção dos nutrientes dos alimentos.
    A intolerância ao glúten pode se manifestar em qualquer idade, em ambos os sexos. Em crianças, geralmente
    entre o primeiro e o segundo ano de vida, na forma clássica.
    O intestino delgado normal apresenta as vilosidades intestinais cujo formato é parecido com os dedos das nossas
    mãos. É neste local que ocorre a absorção dos nutrientes – proteínas, carboidratos, gorduras, vitaminas e sais minerais.No paciente celíaco essas vilosidades tornam-se achatadas (atrofiadas), prejudicando a absorção dos nutrientes.
    FONTE:
    http://www.fenacelbra.com.br/arquivos/guia/guia_orientador_para_celiacos.pdf

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  2. Recentes avanços têm sido obtidos no conhecimento da resposta inflamatória intestinal na Doença Celíaca (DC). A DC tem mecanismo auto-imune, e é das poucas na qual são conhecidos o fator ambiental desencadeante - o glúten, e o auto-antígeno envolvido - a transglutaminase. Descoberta em 1997, a transglutaminase (TGt) é o principal antígeno endomisial alvo na lesão tecidual. Partes do glúten resistentes à digestão das enzimas do lúmen intestinal são transportadas através da barreira epitelial como polipeptídeos. Estes peptídeos do glúten funcionam como substrato para a enzima tecidual TGt, que se localiza predominantemente na região extracelular subepitelial da mucosa; a enzima modifica os peptídeos do glúten por processo de desamidação. Estes são conformados em neoepítopos que se ligam às moléculas HLA-DQ2 ou HLADQ-8 na superfície das células apresentadoras de antígenos, na lâmina própria. A mucosa intestinal de pacientes com DC apresenta uma população de linfócitos T CD4 que reconhece estes peptídeos quimicamente modificados por
    meio de receptores de célula T complementar (TCR) e emite resposta do tipo Th1 e/ou do tipo Th2 com secreção de citocinas, que causam a lesão intestinal.

    Referências:
    http://www.pediatriasaopaulo.usp.br/upload/pdf/1189.pdf

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  3. A doença celíaca é mais comum em crianças, mas também ocorre em adultos, de ambos os sexos. Outros sintomas da doença celíaca estão relacionados à má absorção de nutrientes, como cansaço, falta de ar, lesões na pele, queda de cabelo, dificuldade de crescimento em crianças, osteoporose e carência de vitaminas. É importante lembrar que algumas pessoas podem ter poucos ou nenhum sintoma. A falta de tratamento da doença pode causar o surgimento de tumores no intestino ou linfoma, devido à displicência com relação à intolerância. Como dito na postagem, a principal causa dessa patologia é genética, o que sugere necessidade de um monitoramento adequado do histórico do paciente.
    Fonte: http://drauziovarella.com.br/letras/d/doenca-celiaca-como-diagnosticar-e-tratar/

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  4. A doença celíaca é mais comum em crianças, mas também ocorre em adultos, de ambos os sexos. Outros sintomas da doença celíaca estão relacionados à má absorção de nutrientes, como cansaço, falta de ar, lesões na pele, queda de cabelo, dificuldade de crescimento em crianças, osteoporose e carência de vitaminas. É importante lembrar que algumas pessoas podem ter poucos ou nenhum sintoma. A falta de tratamento da doença pode causar o surgimento de tumores no intestino ou linfoma, devido à displicência com relação à intolerância. Como dito na postagem, a principal causa dessa patologia é genética, o que sugere necessidade de um monitoramento adequado do histórico do paciente.
    Fonte: http://drauziovarella.com.br/letras/d/doenca-celiaca-como-diagnosticar-e-tratar/

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  5. As evidências clínicas e os índices laboratoriais sobre o desenvolvimento da doença celíaca variam de manifestação alguma (DC Silenciosa) até importante resposta imunológica e de desnutrição calórico-proteica. Pacientes com poucos sintomas (DC Oligossintomática) podem apresentar anemia e osteoporose, por exemplo, comprometendo o bem-estar e a qualidade de vida. A DC Atípica é caracterizada por sintomas extra-intestinais como artrite, infertilidade, alterações hepáticas, neurológicas e psiquiátricas de variados graus. A doença pode aparecer ou se manifestar em qualquer idade. Na criança, pode aparecer logo após iniciar o uso de cereais com glúten em sua alimentação, levando até a deficiências no seu desenvolvimento. A diarréia ocorre em proporção significativa de pacientes, mostrando-se crônica, ou seja, durando mais de três ou quatro semanas. Aceita-se que a doença pode permanecer com sintomas mínimos e ocasionais durante longos períodos da vida. Além dos fatores genéticos e imunológicos, foram estudados outros fatores ambientais além do glúten para explicar a patogênese da doença celíaca. Pesquisadores descreveram alto grau de equivalência entre uma seqüência de aminoácidos alfa-gliadina (fragmento 12-amino ácido alfa-gliadina) e o adenovírus sorotipo 12 (fragmento E1b proteína tipo 12 do adenovírus), determinando reação de anticorpos cruzada à proteína do vírus e à gliadina. Alguns anos mais tarde, encontraram anticorpos contra o adenovírus tipo 12, no soro de portadores de doença celíaca não tratada, com freqüência significantemente maior do que nos controles. Por outro lado, dados contraditórios revelam que o adenovírus 12 não seria elemento importante no desencadeamento da doença.
    Fontes: http://www.abcdasaude.com.br/gastroenterologia/doenca-celiaca
    http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0004-28031999000400013

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  6. Os achados clínicas e os índices laboratoriais estão entre nenhuma manifestação (DC Silenciosa), que é, provalmente, o caso da paciente citada na postagem, até importante resposta imunológica e de desnutrição calórico-proteica. Pacientes com poucos e brandos sintomas (DC Oligossintomática) podem possuir anemia e osteoporose, por exemplo, o que prejudica o seu bem-estar e sua qualidade de vida.
    Já a Doença Celíaca Atípica é especificada por sintomas extra-intestinais, tais quais a artrite, a infertilidade e as alterações hepáticas, neurológicas e psiquiátricas dos mais diversos graus. Como dito pelo Wilson, a doença celíaca é mais comum em criancas, mas pode manifestar em qualquer idade. Em crianças, é comum que ela surja logo que estas iniciam o uso de cereais com glúten em sua alimentação, o que pode levar, inclusive, a deficiências no seu desenvolvimento, se o diagnóstico e "tratamento" não forem efetuados a tempo. Em certos casos, é possível que se realize o diagnóstico retirando o gluten da dieta por cerca de 3 meses: se os sintomas sumirem, o diagnóstico é confirmado. Podem ser feitos ainda os testes citados da postagem para comprovar a presença da DC, como o EMA e o teste genético. Quanto ao tratamento, deve ser feito o que também já foi dito na postagem, que é retirar o gluten da alimentação. Como a DC é um processo semelhante a uma alergia, qualquer mínima quantidade pode ser suficiente para manter a doença ativa. Logo, todo rigor é exigido na preparação dos alimentos,com o objetivo de impedir contaminações involuntárias com o glúten. Por exemplo, em um churrasco onde será servido pão, a mesma travessa não deve ser usada para servir a carne a um portador de doença celíaca
    Referência: http://www.abcdasaude.com.br/gastroenterologia/doenca-celiaca#ixzz3Ka1SdFqj

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  7. É interessante falarmos da transglutaminase tecidual (tTG), que está largamente distribuída nos órgãos humanos. Esta enzima é secretada por vários tipos de células e embora seja primariamente uma enzima do compartimento intracelular, pode ser secretada pelas células e se acumular no extracelular. A sua função fisiológica ainda não é bem definida, mas há evidências de que a tTG pode ter um papel importante na formação e estabilização da matriz extracelular. Esta enzima pertence à família das enzimas dependentes de cálcio e catalisam a ligação cruzada entre os resíduos de glutamina e lisina em substratos protéicos. A gliadina, uma porção do glúten, é ria em glutamina, sendo um excelente substrato pra tTG. A tTG extracelular catalisa a ligação cruzada da gliadina, resultando na formação de complexos gliadina-gliadina ou gliadina- tTG, que agem como neoepítopes antigênicos, que poderiam iniciar uma resposta imune nos indivíduos geneticamente susceptíveis, causando o processo inflamatório e a doença celíaca.
    fonte: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0004-28031999000400014&script=sci_arttext

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  8. Os sintomas, assim como o diagnóstico e o tratamento da doença celíaca já foi bem abordado tanto pelo autor da postagem como pelos colegas nos comentários acima. Logo, devemos atentar também para a legislação brasileira no que diz respeito ao direito dos celíacos, pacientes que possuem essa doença evidenciada pelo consumo de glúten. Nossa legislação tem a intenção de proteger os celíacos, pois obriga os fabricantes do ramo alimentício a exporem nas embalagens dos seus produtos a informação de que contém ou não contém glúten. Porém, alguns fabricantes continuam a contaminar pessoas por não conhecerem ou não se importarem com o problema acarretado por essa contaminação das pessoas celíacas. A Lei Federal n° 10.674 de 16 de maio de 2003, foi sancionada pelo então Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva e versa que:
    Art. 1° Todos os alimentos industrializados deverão conter em seu rótulos e bula, obrigatoriamente, as inscrições "contém Glúten" ou "não contém Glúten", conforme o caso.
    Porém, outra lei já versava sobre o mesmo problema anteriormente, que foi a Lei Federal n° 8.543 de dezembro de 1992, conhecida por "Contém Glúten". Logo, vemos que o estado brasileiro já se manifesta em favor dos celíacos há algum tempo e cabe somente as industrias do ramo de alimentos industrializados seguirem a Lei e evitarem a contaminação das pessoas com a doença celíaca.

    Fontes: http://www.camara.gov.br/sileg/integras/440852.pdf
    http://www.acelbramg.com.br/?q=book/export/html/3

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  9. Para que o indivíduo desenvolva a doença celíaca, ele deve ser geneticamente predisposto. É uma enteropatia autoimune crônica relativamente frequente. Estudos mostram uma associação bem estabelecida entre a doença celíaca e outras patologias autoimunes, mais frequentemente diabetes mellitus tipo 1. A prevalência de doença celíaca em adultos ou crianças com Diabetes Mellitus tipo 1 oscila entre 4,4-11% e em 90% dos casos o diagnóstico de diabetes precedia o de doença celíaca. A fisiopatologia desta relação não está completamente esclarecida. Estudos genéticos mostram que ambas as patologias partilham semelhanças nos haplotipos bem como em outros locus genéticos, sugerindo a existência de um mecanismo autoimune. Dessa forma, percebe-se mais uma peculiaridade que deve ser observada em pacientes diabéticos. Como foi dito na postagem, a manifestação da doença pode ocorrer tardiamente, o que pode ser prejudicial para o paciente, caso esse não seja atento a seu estado de saúde, e se o seu médico não der a devida atenção. Na maioria dos pacientes diabéticos, a doença celíaca apresenta-se de forma silenciosa e assintomática, por isso a triagem sorológica para doença celíaca é fundamental para o diagnóstico precoce e a introdução do tratamento adequado. Existe a necessidade de realização de mais estudos no Brasil sobre a associação de doença celíaca e Diabetes Mellitus tipo 1 e que a triagem para doença celíaca em diabéticos deve ser realizada rotineiramente. Uma das formas de se conseguir um resultado prático mais concreto é a determinação dos níveis de IgA sérica. Isso serve para evitar os resultados falso-negativos, inclusive utilizando técnicas mais sensíveis para dosagem de IgA, como por ELISA.
    Fontes: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0021-75572006000600017&lang=pt
    http://www.scielo.gpeari.mctes.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0872-81782014000300008&lang=pt

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