terça-feira, 2 de dezembro de 2014

10ª Postagem: Por fim, uma reflexão...

   Como o nosso último caso no Blog "Bioquímica Histórica", vamos trazer um caso que além de ser estudado, deve ser pensado e refletido.
   O caso da semana é o do jovem holandês de 18 anos, Brandon Van Ingen, o jovem foi considerado violento e imprevisível devido à sua doença mental, na qual ele age como uma criança de 6 a 7 anos com hiperatividade. Ele está internado em uma clínica psiquiátrica na cidade de Ermelo.

No entanto, o que impressiona no caso descrito é o fato de Brandon não ver a luz do sol desde 2007. O jovem é mantido acorrentado por uma corrente de 1,5 metros sem, ao menos, poder abrir a janela de seu quarto. O único momento em que as correntes são retiradas ocorre em seu horário de assistir TV, na qual um ritual é iniciado: a porta de seu quarto é trancado pelo lado de fora e um funcionário joga a chave por baixo da porta para que ele possa abrir a fechadura em seu colete; na volta, o ritual todo recomeça. A instituição afirma que está constantemente buscando alternativas médicas, mas que, atualmente, essa é a melhor solução por questões de segurança.

   O fato é que, ao ser escutado, o paciente afirma está muito triste com a situação, acredita que os funcionários temem sua presença, mas que não gostaria que isso acontecesse e prefere sair nas fotos sem o cinto. Sua mãe sente muita dor ao escutar os relatos, mas, como ocorre normalmente nesses casos, os pais mantêm silêncio sobre o sofrimento dos filhos com medo de represálias contra os pacientes.
    A verdade é que o caso de Brandon não é único. Por exemplo, a Sra. Sebastiana Aparecida Grotto, de 64 anos, deficiente mental, foi mantida em cárcere privado em um cubiculo subterrâneo de 12 metros quadrados por seu marido por mais de 16 anos. O ambiente encontrado possuia mofo, baratas e total privação de luz.
    A realidade é que, ao tentar proteger, o paciente e pessoas próximas, da deficiência mental atitudes que são consideradas desumanas acabam sendo tomadas em diversos casos. Concomitantemente, essas situações vivenciadas apenas auxiliam na piora do caso clínico do paciente, que não consegue desenvolver-se como cidadão, e gera graves sequelas mentais.
    A realidade é que muitos médicos não sabem como tratar casos de saúde mental. Médicos prescrevendo psicofarmáticos de forma incorreta é um dos exemplos recorrentes nas falhas da psiquiatria.
   No caso da terapia, ele se divide em:


-Terapêutica etiológica: a medicação irá agir na DM(deficiência mental) propriamente dita, a fim de elevar o nível intelectual da criança (ex: ácido glutâmico, glutamina, ácido gama-animobutírico).




-Terapêutica sintomática: abrange todos os medicamentos que agem sobre determinados sintomas corrigindo-os (ex: anticonvulsionantes, sedativos, dieta cetogênica para evitar acidose metabólica).

    A deficiência intelectual é resultado, quase sempre, de uma alteração na estrutura cerebral, provocada por fatores genéticos, na vida intra-uterina, ao nascimento ou na vida pós-natal. O grande desafio para os estudiosos dessa característica humana, é que, em quase metade dos casos estudos essa alteração não é conhecida ou identificada e quando analisamos o espectro de patologias que tem a deficiência mental como expressão de seu dano nos deparamos com um conjunto de mais de 180 doenças
   A deficiência intelectual pode ter várias causas, entre as principais estão os: fatores genéticos, perinatais (ocorridos durante a gestação e o parto) e pós-natais.
   "Sedare dolorem morbidus opus divinus est". Nessa frase, encontramos um dos príncipios básicos da medicina, em que é dito que o médico deve aliviar as penas do sofrimento humano e, se possível curá-lo. Com o avanço da medicina nos últimos anos e a facilidade de informações múltiplas que nos traz hoje a internet como afluente de grande massa de investigações, o médico deve, também, acompanhar esse tipo de evolução e ao menos conhecer as mais importantes descobertas científicas.
Percebemos, portanto, que um dos pontos cruciais da medicina têm se perdido com o tempo, a humanização na medicina e a preocupação do médico com o sofrimento do paciente. Eis a reflexão que o blog procura deixar em sua última postagem, pois mesmo analisando todos os casos clínicos de forma científica, o tratamento humanitário não pode ser esquecido.
Obrigado!

Fonte
http://edition.cnn.com/2011/WORLD/europe/01/22/netherlands.documentary/
http://www.isbdf.org/deficiencia-mental-intelectual/
http://www.portaleducacao.com.br/fisioterapia/artigos/31338/tratamento-medicamentoso-e-fisioterapico-da-deficiencia-mental-dm
http://revistabioetica.cfm.org.br/index.php/revista_bioetica/article/viewArticle/231

8 comentários:

  1. Muitos tratamentos psiquiátricos têm sido usados ao longo da medicina. Como aconteceu com a psicocirurgia, a terapia por eletrochoque foi muitas vezes usada de forma polêmica. Em primeiro lugar, ocorreram muitos casos em que o eletrochoque era usado para subjugar e controlar pacientes em hospitais psiquiátricos. Pacientes problemáticos e rebeldes recebiam várias sessões de choque por dia, muitas vezes sem sedação ou imobilização muscular adequadas. O historiador médico David Rothman afirmou em uma reunião de Consenso Clínico do NIH sobre terapia por eletrochoque em 1985:

    "A terapia por eletrochoque se destaca de forma praticamente solitária entre todas as intervenções médicas e cirúrgicas, no sentido em que seu uso impróprio não tinha a meta de curar, mas sim o de controlar pacientes para o benefício da equipe hospitalar"

    Esses são casos em que o tratamento não tem como objetivo o bem estar do paciente, ou melhorar o sofrimento humano, mas sim a retirada desse ser da sociedade que o rejeita e não o encara como humano.
    fonte: http://www.cerebromente.org.br/n04/historia/shock.htm

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  2. Esse tipo de tratamento, apesar de absurdo, ainda é ralidade em muitos hospícios ou outros locais de tratamento de pessoa com problemas mentais. É muito comum ainda se encontrar ama série de violações aos direitos humanos das pessoas internadas em muitos hospícios, os chamados manicômios. Todo esse descaso e abandono para com esses pacientes se transformou em um movimento de profissionais da saúde que passaram a denunciar as más condições em que se encontravam os doentes mentais, movimento contra os manicômios. Com esse movimento houve, então, uma reforma psiquiátrica em vários países do mundo, inclusive no Brasil, onde passou-se a dar atenção mais específica para cada paciente, de modos que o tratamento seja humano e digno para cada um deles. Porém, dados do Ministério da Saúde revelaram, em 2011, que ainda existiam 59 hospitais psiquiátricos públicos no Brasil funcionando no modelo antigo de tratamento (modelo dos manicômios). Isso mostra que ainda precisamos avançar bastante nas formas de tratamento desses pacientes, de modo que eles também tenham uma qualidade de vida aceitável, contribuindo, assim, para a sua melhora.

    Fontes:
    http://oglobo.globo.com/politica/dez-anos-apos-reforma-psiquiatrica-brasil-ainda-tem-instituicoes-publicas-funcionando-no-modelo-de-antigos-manicomios-2760053
    http://www.psiquiatriageral.com.br/legislacao/saude_mental01.htm
    http://www2.uol.com.br/vivermente/reportagens/rumo_ao_fim_dos_manicomios.html

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  3. Considerando que o tema dessa postagem envolve o assunto de doenças mentais, acho importante comentar um pouco sobre uma doença comum e de bastante relevância nos dias de hoje: a esquizofrenia. Cerca de 1% da população mundial sofre de esquizofrenia. No Brasil esse número está em torno de dois milhões de pessoas e, a cada ano, aproximadamente 34 mil novos casos são diagnosticados. A esquizofrenia é uma doença crônica e grave que normalmente se inicia entre o fim da adolescência e os 30 anos de idade. Entre os principais sintomas estão: alucinações, principalmente auditivas; delírios como o de estar sendo perseguido, observado, vigiado por câmeras ocultas ou a de ter o telefone grampeado pela polícia; afetividade alterada ; alterações de pensamento; falta de motivação; dificuldade de concentração e isolamento. As causas continuam pouco conhecidas. Os medicamentos mais recentes (antipsicóticos) tratam com mais eficácia os sintomas da doença e provocam menos efeitos colaterais, agindo basicamente sobre substâncias cerebrais (neurotransmissores) como a dopamina e a serotonina. Apesar de alguma limitação, essa doença não impede que a pessoa tenha uma vida praticamente normal. É provável, por exemplo, que ela tenha maior dificuldade em estabelecer relações ou em desempenhar tarefas profissionais complexas, que exijam concentração ou raciocínio lógico, mas não existe impedimento à sua convivência com outras pessoas. A gravidade não está tanto no diagnóstico: está mais no curso da doença, que é variável entre os pacientes. Entretanto, o preconceito da sociedade é o maior agravante da doença. O diagnóstico de esquizofrenia geralmente é acompanhado por sentimento de culpa e vergonha por parte do paciente e da família. Muitas vezes é difícil para a família entender as dificuldades que o paciente enfrenta. As pessoas não estão acostumadas ao comportamento estranho e nem ao raciocínio confuso, o que acaba gerando incompreensão e até brigas. A discriminação prejudica quase a metade dos indivíduos vítimas da esquizofrenia. Nesse aspecto, a compreensão é o melhor caminho.
    http://www.sinomar.com.br/portal/conteudo.asp?codigo=4805&page=80

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  4. Confesso que fui pesquisar esse caso em outras fontes, pois não acreditei que com todos os avanços da medicina ainda fosse necessário manter alguém acorrentado com finalidade de "tratamento". Como dito no comentário do João Marcos, sobre o eletrochoque, acredito que esse método usado com o jovem Brandon Van Ingen seja uma forma apenas de proteger a equipe de saúde, sem o mínimo de preocupação com o paciente. Em um mundo no qual a medicina humanizada é a tônica, é triste e surpreendente saber que coisas assim ainda acontecem. Muito tem se falado também sobre a psicofobia, que é o preconceito contra os portadores de transtornos e deficiência mentais. Com o objetivo lutar contra esse preconceito contra o doente mental e contra o Psiquiatra, a campanha “A Sociedade Contra o Preconceito” é uma iniciativa da ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria) contra qualquer outro tipo de preconceito seja ele racial, religioso ou de gênero. Dentro desta campanha está o PLS 236/2012 que torna a Psicofobia (atitudes preconceituosas e discriminatórias contra os deficientes e os portadores transtornos mentais.) um crime. Na minha opinião, "tratamentos" como o oferecido a Brandon apenas reiteram esse preconceito, ao passo que pintam o doente mental como um ser descontrolado, incapaz de conviver em sociedade, privado do convívio social. É algo que vai contra tudo o que se prega atualmente.
    Referência: http://www.abp.org.br/portal/a-sociedade-contra-o-preconceito-psicofobia-e-um-crime/

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  5. Os métodos de tratamento psiquiátrico são uma incógnita que parece não ter fim. De um lado existe o tratamento mais tradicional (internação). Do outro temos o tratamento de participação familiar. Para o paciente, o segundo é, sem dúvidas, o mais vantajoso. Entretanto, não é fácil para a família conseguir lidar com o novo desfaio. Pesquisas internacionais vêm investigando a experiência dos familiares que cuidam de pacientes psiquiátricos desde os anos 1950, tendo se intensificado a partir da década de 1970. Maurin e Boyd, Rose e Loukissa, ao revisar pesquisas nesta área, constataram que os familiares cuidadores de pacientes psiquiátricos sentem-se sobrecarregados. Outros estudos internacionais apontaram igualmente a presença de sobrecarga em familiares cuidadores, apesar da satisfação que também apresentaram por cuidar dos pacientes.

    Referências:
    http://www.scielo.br/pdf/rpc/v34n6/v34n6a03

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  6. Da mesma forma que a Carolina, eu fiquei surpreso ao saber do uso de tais técnicas, que aos leigos parecem ser tão "arcaicas". Entretanto, depois de pesquisar constatei que até hoje, a eletroconvulsoterapia continua sendo o único tratamento não farmacológico com um corpo adequado de evidências que o aponta como um recurso efetivo para pacientes com sintomas refratários à farmacoterapia. No entanto, o crescimento contínuo da literatura sobre a neuromodulação nas últimas décadas levou a um maior interesse na pesquisa de novos tratamentos somáticos, tais como a estimulação do nervo vago (ENV), estimulação magnética transcraniana (EMT), terapia magnética convulsiva (TMC), e a estimulação encefálica profunda (EEP). Certamente que estes novos métodos não apresentam ainda a mesma eficácia que o eletrochoque, mas demonstram esforço em procurar vias que minimizem o sofrimento do paciente.
    Fonte: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-44462007000600007

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  7. Em complementariedade com o que o Kássio falou em seu comentário, é válido afirmar que tornar-se cuidador de um paciente psiquiátrico pode gerar sobrecarga, porque constitui uma quebra no ciclo esperado de vida, que pressupõe que pessoas adultas sejam independentes. Além disso, tornar-se cuidador de um paciente psiquiátrico requer que os familiares coloquem suas necessidades e desejos em segundo plano e reorganizem sua vida em função das necessidades do paciente. Além disso, a elevada sobrecarga dos cuidadores de pacientes psiquiátricos pode contribuir para que eles desenvolvam transtornos psicopatológicos, sendo o transtorno depressivo o mais frequente. Logo, conclui-se corretamente que os familiares sobrecarregados sentem necessidade de receber maior apoio dos profissionais de saúde, mais suporte social e mais informações sobre os transtornos mentais e sobre como lidar com as crises dos pacientes. Assim, vê-se a necessidade de um sistema de saúde que realmente acompanhe os pacientes. Isso não é algo que se alcança nos consultórios de consultas avulsas, uma vez que há a necessidade de um acompanhamento mais massivo e mais completo, de forma que os problemas sejam os melhores administráveis possíveis.
    Fontes: Aulas de Bioquímica Médica I e II do Professor Osmar Cardoso
    http://www.scielo.br/pdf/rpc/v34n6/v34n6a03

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  8. Essa deficiência intelectual pode ser gerada por fatores teratogênicos, como a exposição a substâncias como as bifenilas policloradas.
    A exposição a PCBs pode gerar disfunções em hormônios da tireoide, que regulam processos biológicos básicos, como diferenciação, migração, proliferação de neurônios e sinaptogênese, assim como diferenciação de células da glia, que são eventos importantíssimos para o desenvolvimento saudável do sistema nervoso do feto. Desse modo, há efeitos bastante graves no fetos afetados, tais como: alterações relacionadas à plasticidade dendrítica, quocientes de inteligência baixos, dificuldade de aprendizado e memória, e , por consequência, os problemas relatados na postagem.
    Fonte: pcbsebioquimica.blogspot.com

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