"Em julho de 2001, a alemã Britta Frey foi a um hospital porque sentia arranhões no ouvido. Quando os médicos fizeram uma lavagem na orelha dela, descobriram uma lacraia lá dentro. Apesar de esse animal ser venenoso, Britta não sofreu nenhum ferimento"
Com esse vídeo e nosso novo caso clínico, introduzimos um assunto que torna-se corriqueiro nas clínicas, principalmente nas voltadas ao atendimento infantil: objetos estranhos na cavidade auditiva. Nesse contexto, damos ênfase no caso de insetos que, mesmo que as pessoas não achem que seja comum, podem entrar no ouvido e causar danos sérios.
Antes de tudo, é necessário uma análise sobre esse importante órgão de audição e de equilíbrio. O ouvido pode ser dividido em três partes:
-Ouvido externo: Dividido em pavilhão(orelha) e meato acustico externo
-Ouvido médio: Também conhecido como cavidade timpânica, é formada por cavidade timpânica propriamente dita(espaço interno à membrana timpânica) e o recesso epitimpânico( espaço superior ao tímpano)
-Ouvido interno: Contém o órgão vestibulococlear(recepção do som e manutenção do equilíbrio)
Dessas estruturas, traremos uma ênfase ao meato acústico externo, pois devido ao tamanho dos objetos externo, é nesse canal que costumam estar presos, causando maior parte do dano no mesmo.
Em um caso de corpo estranho no MAE, os quadros clínicos podem ser variados, pois dependem do tipo de objeto inserido. Ou seja, podemos ter casos assintomaticos até quadros clínicos de dores lacerantes. Em todos eles, é necessário o exame de otoscopia para confirmar o tipo de corpo estranho existente, bem como lacerações, presença de edemas e, possivelmente, perfuração da membrana timpânica.
Obs: A Otoscopia é um exame comumente feito em exames gerais em crianças, com o objetivo de haver um exame visual direto no MAE e na cavidade timpânica
Nos casos clínicos, o objeto estranho pode causar a otite externa, também conhecida como inflamação no meato acústico externo. Concomitantemente, existe a possibilidade do paciente ouvir zumbidos, prejudicando sua audição na comunicação com o nervo craniano vestíbulo-coclear, e iniciar uma tosse seca. Em casos de obstrução por insetos, o caso é mais preocupante, pois a incidência de zumbidos torna-se maior, além de existir a possibilidade de picada do inseto, causando inchaço que dificulta a ação do profissional e iniciar um quadro de infecção, caso o inseto seja venenoso.
É importante salientar que apenas profissionais que conheçam a anatomia do ouvido devem tentar retirar objetos estranhos para evitar piorar o caso com uma possível perfuração timpânica ou lesão dos ossículos( martelo, bigorna e estribo). Caso o corpo estranho seja um inseto, deve-se imobilizar o animal com solução oleosa no conduto ou usar tampão de algodão embebido em éter ou clorofórmio(essa última técnica caso já haja perfuração timpânica).
A perfuração da membrana timpânica pode causar surdez através de lesões na corda do tímpano e dos ossículos da audição, sendo necessário reparo cirúrgico em casos mais graves. Caso esse seja o caso do paciente, a remoção instrumental deve ser feita, pois caso entre ãgua no ouvido pode-se ter infecção local ou desarticulação dos ossículos, agravando ainda mais a situação.
No caso de infecções, é importante salientar a comunicação que o ouvido possui com a região nasal através da tuba auditiva, fato este que pode levar uma infecção a espalhar-se rapidamente para outras áreas do corpo.
Também é importnte analisar o quadro clínico de casos em que o objeto é uma pilha e bateria pequena, surgidas com o avanço tencológico. Nesse caso, conhecido como lesão química, os maiores riscos estão na possibilidade de vazamento da substância alcalina e lesão tecidual, causando queimaduras desde o ouvido até a região nasal.
Essa postagem está voltada principalmente para os caos infantis, pois são as crianças que costumam descobri o mundo e levar objetos estranhos ao MAE, mas também vemos casos em adultos, principalmente quando falamos do caso de insetos.
Interessante que um corpo estranho no ouvido possa causar tosse seca. É um dos casos em que fica muito evidente a íntima relação existente entre os sistemas humanos. Recentemente, foi encontrado um grilo de cerca de 7 cm no ouvido de um indiano. O inseto estava vivo e continuou ao ser retirado. A maioria dos corpos estranhos no ouvido não deixa sequelaapós serem removidos. As medidas tomadas no domicílio na tentativa de retirar o objeto do canal auditivo externo (pinças e cotonetes, por exemplo) são, geralmente, ineficazes e, inclusive, prejudiciais, podendo traumatizar o canal auditivo externo, o que dificultará a remoção pelo médico, ou até mesmo perfurar o tímpano, levando a dores ou até perda da audição. Embora o tímpano geralmente cicatrize espontaneamente dentro de, aproximadamente, dois meses, por vezes é necessária uma intervenção cirúrgica.
ResponderExcluirReferências: http://hmsportugal.wordpress.com/2011/12/27/corpos-estranhos-no-ouvido-2/
http://noticias.terra.com.br/mundo/asia/inseto-de-7-cm-e-achado-dentro-de-ouvido-de-indiano,13d39abe6cbe8410VgnVCM20000099cceb0aRCRD.html
O conhecimento bioquímico mostra-se bastante importante nos exames de ouvido, pois dependendo da natureza do corpo estranho presente no meato acústico externo a conduta deve ser totalmente diferente. No caso dos insetos a imobilização é feita com solução oleosa pois a substância lipofílica consegue penetrar facilmente no exoesqueleto do animal e assim tranquilizá-lo. No caso de substâncias alcalinas a lesão tecidual deve-se a uma desidratação dos tecidos devido a um excesso de íons OH- que estão em contato. De qualquer forma, percebemos a importância de quantidades adequadas do cerume presente no MAE para proteger as estruturas internas do ouvido. O acúmulo de cera no ouvido geralmente é assintomático, mas quando ele é tão grande a ponto de obstruir o conduto auditivo, pode causar dificuldades de audição e mesmo surdez em pelo menos um dos ouvidos. Além disso, se a cera no ouvido estiver aderida ao tímpano, pode causar dores de ouvido, tonteiras, vertigens, zumbidos ou algum outro incômodo como coceira ou sensação de ouvido entupido. Em alguns casos, a cera no ouvido pode se tornar visível, causando uma impressão estética desagradável. Só o excesso ou a cera aparente devem ser retirados. Uma fina película de serosidade normal evita o ressecamento da mucosa, que pode vir a causar as infecções e outras moléstias. Além disso, a cera do ouvido representa uma impermeabilização contra a água e contém vários tipos de anticorpos defensivos. Sua consistência pegajosa também ajuda a grudar e reter corpos estranhos de tamanhos minúsculos. A falta ou o excesso de cera no ouvido pode causar eczema do meato acústico, otite externa, exostose e osteoma do meato externo. Fonte: http://www.abc.med.br/p/sinais.-sintomas-e-doencas/369449/cera+no+ouvido+quais+sao+as+consequencias+do+excesso+de+cera+no+ouvido.htm
ResponderExcluirÉ necessário ter conhecimentos acerca do tipo de oibjeto mais frequentemente encontrado no MEA de pacientes com esse tipo de problema, para que se possa escolher os métodos mais adequados de abordagem. Então aqui vão algumas informações retiradas de uma pesquisa:
ResponderExcluir"Os pacientes acima dos 16 anos foram os mais acometidos, 187 casos (40.5%) e os tipos de corpos estranhos encontrados foram os mais diversificados . Também vemos que o corpo estranho mais encontrado foram os insetos, 127 casos (27.5%) e o sexo masculino o mais acometido com 286 casos (62%). A idade com maior índice de complicações foi de 0 a 6 anos. Os insetos, sementes e peças ornamentais foram responsáveis pela maior parte das complicações.
80 pacientes (17,3%) necessitaram de anestesia geral para remoção segundo, respectivamente. Dos 80, os tipos de corpo estranho mais frequentes eram o feijão (21 casos) e outras sementes (18 casos). Cinquenta e oito casos que necessitaram de anestesia tinham idade menor de 6 anos.
Entre os 4 e 12 anos (165 casos), foi encontrada uma maior prevalência dos casos de corpo estranho em orelha no período de férias: janeiro (22 casos), fevereiro (19 casos) e julho (19 casos)"
FONTE:http://www.arquivosdeorl.org.br/conteudo/acervo_port.asp?id=665
"É importante salientar que apenas profissionais que conheçam a anatomia do ouvido devem tentar retirar objetos estranhos". Como bem mostrou a postagem, deve se ter bastante cuidado ao manusear objetos dentro do Meato Acústico Externo. Essa ação deve ser desempenhada preferencialmente por profissionais, uma vez que esse conduto auditivo possui apenas de 2 a 3 cm de comprimento (logo, a entrada de objetos cortantes e/ou perfurantes predispõe ao ferimento/perfuração da membrana timpânica e do próprio conduto auditivo). O ferimento do MAE tem probabilidade considerável de ocorrer quando um procedimento clínico é desempenhado por leigos porque esse canal é em formato sinusoide, e não retilíneo, como pensa grande parte das pessoas. A perfuração da membrana timpânica pode causar surdez, se for de grande intensidade e que não possibilite reconstituição. No caso de insetos venenosos, a picada pode gerar edemas que geram desconforto para o indivíduo, uma vez que picada faz com que o corpo libere mediadores químicos inflamatórios, como histamina e heparina, que aumentam os poros capilares, fazendo com que as proteínas do plasma sanguíneo extravasem e não permitindo que o líquido intersticial faça o retorno venoso, causando um inchaço decorrente do acúmulo de líquido não captado pelos vasos linfáticos.
ResponderExcluirFontes: Anatomia Orientada para a Clínica - Moore
Tratado de Fisiologia Médica - Guyton
É realmente muito importante que a pessoa não tente retirar o objeto estranho em casa, com o uso de bocais de caneta ou clipes. Apenas o médico tem os equipamentos necessários como pinças e fórceps, além de anestésicos e outros matérias para retirar o objeto sem casar maiores danos ao MEO ou à membrana timpânica. As crianças pequenas não toleram intervenções dolorosas ou assustadoras, e podem necessitar serem sedadas para ter objetos retirados das suas orelhas. Muitas vezes com crianças, a primeira tentativa é mais bem sucedida do que tentativas posteriores para remover um objeto, pois pode ser doloroso e assustador para a criança.
ResponderExcluirfonte: http://www.medwob.com/pt/2750.html
Parece inconcebível que o cerúmen é protetor do ouvido como um todo, e não apenas uma "sujeira". A causa mais comum de otite externa é a infecção por bactérias e fungos. Na maior parte das vezes, esses micro-organismos penetram através de lesões na pele que recobre a orelha externa provocadas por objetos (cotonetes, grampos, por exemplo), por atritos ao coçar ou secar o ouvido e pelo contato com água contaminada (mar, piscina, banhos). O contato frequente com a água pode facilitar a remoção da cera que serve de proteção para o canal auditivo. Por isso, a otite externa também é conhecida como otite dos nadadores. Percebe-se que a retirada de cerúmen com frequência exagerada, assim, prejudica o ouvido. Fonte: http://drauziovarella.com.br/crianca-2/otite-externa/
ResponderExcluirA procura para retirada de corpos estranhos de ouvido, nariz e faringe representa uma grande parcela das consultas efetuadas nos serviços de emergência em otorrinolaringologia. Estudos prévios chegam a apontar os corpos estranhos como a principal queixa dos pacientes atendidos pelo otorrinolaringologista, correspondendo a 15,69% do movimento anual em serviço especializado. Dentre essas consultas, a maior parte são de crianças. As crianças, por natureza curiosas e inclinadas a explorar os diversos orifícios do corpo, compõem uma população particularmente predisposta a introduzir os mais diversos objetos no ouvido, nariz e trato digestivo. Esses pacientes normalmente ainda não possuem os mecanismos de proteção do trato aerodigestivo totalmente desenvolvidos (dentes molares não eruptos, mecanismos neuromusculares de deglutição imaturos, incapacidade de realizar
ResponderExcluirsozinhos a higiene nasal), o que motiva maior preocupação por parte do médico frente a um caso de corpo estranho em criança.
Uma observação importante é não normalizar a dor de ouvido em crianças. Pelo fato da incidência grande desse problema nessa faixa etária, muitas pessoas não dão o devido cuidado e usam medidas próprias ou remédios sem orientação médica devido ao achismo de que toda criança tem dor de ouvido. Como exposto na postagem, dores de ouvido podem ser decorrentes de infecções graves ou mesmo da entrada de objetos ou insetos no meato acústico externo. Assim, muitas crianças oriundas de famílias de baixa renda convivem constatemente com esse problema, pois além do senso comum de ser "normal" há também a falta de acesso e a demora para o atendimento por um especialista no SUS.
ResponderExcluir