O caso clínico dessa semana tem como objetivo falar sobre uma situação que existe rotineiramente na nossa alimentação, mas que é desconhecida por uma parcela enorme da população, sendo importante entendermos melhor os mecanismos e cuidados sobre o respectivo tema.
O caso trata de uma mulher de 53 anos, com tireoide de Hashimoto de dificil controle, hipervitaminose D, hipocalcemia, anemia ferropenica recorrente, poliartrite e alterações frustes dos hábitos intestinais há 12 anos. Foi internada por diarreia crônica, com desidratação crônica e alterações hidroeletroliticas daí resultantes.
Na análise desse caso clínico, devemos observar, em primeiro lugar, os motivos da internação da paciente. A diarreia crônica representa uma manifestação frequente de doença intestinal e de grande impacto na vida do paciente, fazendo com que tenhamos uma maior preocupação com o caso, al+em de voltar a atenção para os órgãos do aparelho gástrico.
É apontado, também no caso estudado, que a apresentava-se desidratada, taquicárdica e hipotensa, com abdómen doloroso à palpação profunda do epigastro e hipogastro e aumento dos ruídos hidro-aéreos. Durante os testes: a análise das fezes evidenciou diarreia secretora, com malabsorção. O estudo imunológico revelou anticorpos IgA anti-gliadina, anti-reticulina, anti-endomísio e anti-transglutaminase tecidular negativos (excluído défice de IgA). A TAC abdominal mostrou ansas intestinais distendidas, preenchidas por abundante quantidade de líquido. A colonoscopia total e a endoscopia digestiva alta não mostraram alterações macroscópicas, mas o estudo histológico da
biopsia duodenal realizada na terceira porção do duodeno (recolhidas 5 amostras) demonstrou aspectos compatíveis com doença celíaca.
O interessante, nesse caso, é que a paciente havia feito, anos atrás, o teste de doença celíaca, mas a hipótese foi afastada devido aos marcadores imunológicos negativos e à histologia duodenal normal. Isso, pois a doença celiaca causa lesões no epitélio intestinal que libera transglutaminase tecidual-TGA, desencadeando resposta imune pelas células T, liberando citocinas pró-inflamatórias. Entre os sintomas da doença em questão, podemos citar deficiência moderada de Ferro, dor abdominal, fadiga e osteoporose; sinais encontrados na paciente estudada. O estudo mostrou que a doença celíaca também pode vir a se manifestar tardiamente.
A doença celíaca representa uma alteração genética de indivíduos que são sensíveis ao glúten, sendo uma doença autoimune. É por isso que nas embalagens dos alimentos deve haver a indicação de conter ou não conter glúten, algo que todos percebemos, mas nunca sabemos realmente o motivo ou a importância dessa constatação.
Ao ingerir as proteínas gliadina ou prolamina (vindas do trigo) e outras semelhantes, esses conjuntos de aminoácidos modificam-se quando entram em contato com o organismo, provocando no sistema imunitário reações, que refletem em inflamações intestinais. A partir dessas inflamações, a parede do intestino delgado com vilosidades fica mais achatada, reduzindo a capacidade de absorção dos nutrientes essenciais para o corpo, causando agravamentos para a saúde.
Existem exames de triagem que procuram descobrir a sensibilidade do indivíduo ao glúten. Entre eles, podemos citar:
- Anticorpo antitransglutaminase (anti-TTG) – São pesquisados anticorpos da classe IgA. Tem sensibilidade e especificidade de 90% a 95%. É realizado por método Elisa e universalmente aceito como teste de triagem para DC. Por haver uma concomitância de 2% a 10 % de DC e deficiência de IgA, é necessário fazer a dosagem de IgA sérica concomitante. No caso de IgA baixa, deve-se testar o anticorpo antitransglutaminase da classe IgG.
- Anticorpo antiendomísio (EMA) – Também é feito para anticorpos de classe IgA. Tem sensibilidade e especificidade semelhante à do anti-TTG, porém, por ser realizado por técnica de imunofluorescência indireta, depende da experiência do observador. Por outro lado, a possibilidade de inspeção visual permite um controle de qualidade inerente a esse exame. EMA e anti-TTG têm desempenho diagnóstico comparável e geralmente apresentam concordância. Isso ocorre porque o antígeno reconhecido no teste EMA é a própria transglutaminase, enzima em que o endomísio é rico. No entanto, algumas amostras podem ser reagentes em apenas um desses dois testes devido a peculiaridades de exposição de epítopos em cada um desses ensaios.
- Anticorpo antigliadina – Por sua menor sensibilidade e especificidade, esse anticorpo não tem mais sido recomendado para a triagem de DC.
- Teste genético – A grande maioria dos pacientes celíacos e 30% da população geral apresentam HLA-DQ2 e/ou DQ8. Assim, a presença de um desses dois alelos tem boa sensibilidade, mas baixa especificidade. Portanto, um teste negativo para DQ2/DQ8 praticamente afasta a possibilidade de DC, mas um resultado positivo não permite fechar diagnóstico, sendo necessários outros subsídios de natureza clínica, imunológica ou histológica.
No caso da doença celiaca, o tratamento ocorre com uma dieta livre de glúten, algo que restringe bastante a alimentação do indivíduo, mas que ainda cria muitas possibilidades de dieta, até mesmo por empresas que acreditam nesse mercado e criam sempre novas opções livres de glúten.
Para ter uma melhor noção de uma dieta livre de glúten, utilizada até mesmo por quem busca emagarecimento e remoção de gordura na área abdominal, acesse: http://www.dietaesaude.com.br/dietas/44-dieta-sem-gl%C3%BAten
Fonte:
http://www.galiciaclinica.info/PDF/27/610.pdf
http://blogbionut.blogspot.com.br/2012/06/doenca-celiaca-e-umdisturbio-auto-imune.html
http://bioquimica-clinica.blogspot.com.br/2010/08/doenca-celiaca.html